domingo, 9 de março de 2014

Nota para mim

Nem sempre consigo escrever, sentir ou até mesmo pensar.

Tenho preguiça nas mãos, nos olhos,  no coração - como se esperasse qualquer coisa que nunca mais vem lá.

Às vezes gostava de ser Saramago, de escrever textos corridos, com pontuação apenas que demarca os tempos orais mas que deixa à mercê de quem lê a gramática e a interpretação.

Mais do que isso apetece-me brincar no limite nao acentuar deixar de usar maiusculas ou mesmo deixar de pontuar como se tudo fosse texto corrido e preguiçoso escrevendo somente para mim como se tudo rumasse a uma velocidade louca em direcçao ao fundo do tunel a fim de chegar o mais sofregamente possivel aquela luz que todos evitam quem me dera ler livre e rebelde para isso quem me dera nao ser eu quem me dera nao ser ninguem fim

sexta-feira, 7 de março de 2014

Pudesse eu dar a minha vida por alguém...

 

O findar de um Ciclo



A morte é um assunto tão denso que chega a ser insuportável apenas como conceito. Cogitar sobre isto exige uma frieza, uma destreza emocional para não ceder à tristeza que nem todos possuem naturalmente. Infelizmente, a única certeza que tive, tenho e sei que vou ter, é a morte; não só a minha, mas a dos que me rodeiam.

Mentiria se dissesse que encarar o meu fim me assusta, que é algo que me preocupa e cria ansiedade. Na verdade, perturba-me bem mais a agonia e o sofrimento no leito de morte. Tudo que tem um começo tem também o seu término e é assim desde a criação do mundo e nada nem ninguém é excepção.

No entanto, aquilo que me causa o nó histérico na garganta, a palpitação e a nevralgia, é o fim dos outros; é ver a vida de alguém que amo, de um ser me me faz falta, que é motivo da minha felicidade, escoar-se e eu não ter qualquer controlo sobre isso, não poder fazer nada para ajudar. Velar as memórias, os sentimentos, tudo o que pode representar aquele alguém de quem dependia de alguma forma, é uma autêntica tortura, sendo mais penoso quando o outro ainda não nos abandonou por completo.



Quando partem, partimos com eles e o que fica... fica partido.

Pudesse eu dar a minha vida por alguém...

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Vagueando num hospital



Entropia do meu Universo

 

    Quando estamos num hospital horas a fio por dia, todos os dias, todos os minutos se alongam, todas as horas parecem infindáveis, toda a noção de tempo comum se altera. Parece que este tipo de infraestrutura tem uma capacidade física de perturbar a entropia do Universo e o conceito temporal subjacente.

Nunca gostei de hospitais, passei demasiado tempo aqui em rotinas, acidentes e imprevistos, gostava até de já ter a minha conta de tempo despendido nestas instituições encerrada. O ambiente em si é mórbido, o ar é denso, como se o cansaço, a depressão, a monotonia e a frustração se dissolvessem no ar, viajando pelos corredores e contaminando todo o centímetro cúbico de ar.


    É triste vaguear pelos corredores, deixar os olhos fugir para os quartos e ver o vazio no rosto de muitos aqueles que apenas aguardam a morte, o cansaço da dor, da solidão, do desconforto, do fim da sua vida como a conhecia. A esperança é rara ver-se nestes locais, não é imune a tudo o que é administrado nem aos desinfectantes do bloco, os doentes desistem quando as juras que lhes foram feitas estão perdidas no tempo e quando as promessas parecem demasiado longínquas para serem concebíveis. Pior do que isso é talvez o silêncio da solidão que permanece apesar do ruído das máquinas, dos auxiliares e até mesmo os gritos do desespero. Este silêncio, este vazio que ronda as pessoas, dá demasiado tempo para pensar àqueles que só se focam nas dores, no adaptar ao desconfortável.
     Fico horas a pensar no que poderia estar a fazer, onde poderia estar a dormir com quem poderia estar a falar, penso um pouco em tudo, e a depressão apodera-se de mim como se eu nada pudesse fazer contra isso. Faz falta alguém que anime os corredores, que dê um exemplo de alegria para que isso sirva de contágio ou para que, pelo menos, provoque ciúmes ou saudades àqueles que já não se lembram de a sentir.
De certo modo, é bom ter este tempo para pensar, para explorar a minha infelicidade, para compreender o âmago da solidão tão patente em mim. Tenho tempo para reflectir sobre aquilo que fiz, o que faço e o que vou fazer. Por muito depressivo que se possa revelar esta análise, sinto que é importante verificar os meus pontos críticos e as minhas potenciais deficiências.


     Sou jovem, são poucos os anos (considero) que já celebrei, mas a idade é um número e eu sinto-me bem mais velha, bem mais esgotada, como se o tempo me pesasse mais a mim do que aos comuns mortais, e sempre que rastreio a alma que ainda me está acessível, sinto que desperdiço todos os segundos que me são dados, como se não aproveitasse a juventude para cometer os meus erros crassos e as minhas fatalidades emocionais e acredito que perco muitas oportunidades de aprender e de experimentar na pele. Já há algum tempo que tenho interiorizado uma necessidade de me abrir e de me permitir a arriscar e a cometer os erros típicos de uma jovem, bem como outros erros aleatórios que não sei se se enquadram exactamente numa faixa etária, daí que tenho tentado mudar a minha postura ao máximo, ser mais aberta com as pessoas, deixar que as pequenas coisas fluam e tenho sido estratega. Por vezes é necessário manipular alguns meios de forma a chegar a um fim desejado e é isso que tenho feito, mesmo que isso implique mentir, ludibriar pessoas e fingir sentimentos e estados de espírito. Tenho concluído que mais importante do que os outros somos nós e aquilo que sentimos e, por isso, não tenho sentido remorsos por ser uma bela ilusionista e por usar alguns peões para me divertir e usufruir de algumas vantagens, seja na faculdade, no trabalho, seja na vida social.
 
     A minha vida não é fácil - eu que vivo apenas uma realidade, uma consciência desde que me lembro, apenas posso avaliar aquilo que experiencio com base no que sinto, no que o dia-a-dia me provoca e concluo, de forma até deprimente , que a minha vida piora a cada segundo que respiro, como se qualquer fracção de tempo passa fosse já demais – e não gosto nem de a encarar nem de me esforçar em vão por modifica-la. 

    Gosto de acreditar que cada um traça o seu destino, mas há momentos em que me é difícil crer nisso, parece que tudo se alinha no sentido de me molestar.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Poeta

    

   Quem me dera ser poeta

  
     Quem me dera ser poeta. Poder contar as maiores tragédias e traduzir os mais complexos sentimentos da mais bela forma que existe no mundo.

     Poeta é um cientista da palavra, é um artista, um compositor, é um ser de âmago intrincado. Quem tem o dom do lirismo canta os grandes desgostos, os mais profundos dissabores e, ainda assim, no meio de tamanhas amarguras, emana tanta beleza, tanta tranquilidade, faz do seu coração o nosso, permite que sintamos as lágrimas nos olhos, o nó na garganta e o aperto no peito.

    Qualquer drama numa boa estrofe, com uma métrica rigorosa (ou nem tanto assim), tem a melodia de um romance, de um conto de aventuras, como se tamanhas epopeias de tristeza não se fizessem sentir melancolicamente. Não creio que o Poeta seja aquele que rima de forma óbvia, o que exagera na filosofia e no abstrato, mas sim aquele que conquista, que prende e emociona.

    Quem me dera ser Poeta, quem me dera romancear a vida.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O cansaço da rotina



Dor pensar, dor de sentir, dor de ser.



    Numa manhã como as outras –complicada, melancólica e depressiva-, indo de metro para a faculdade, ocorreram-me algumas filosofias de Fernando Pessoa, principalmente no que toca ao heterónimo que sofria com a sua consciência, com o facto de intelectualizar e da angústia que isso lhe causava. Mais do que pensar, a mim magoa-me grande parte do que percepciono, não só aquilo que cogito, mas aquilo que sinto, que experiencio e vivo. Sofro de dor de ser , dor de até existir. É um conceito muito abstracto, inclusive é-me complicado transpor para texto o que não passam de emoções, principalmente quando o criei num devaneio momentâneo. 

     A dor é uma sensação de desconforto, podendo ser física ou psicológica, é uma reacção do corpo humano para informar o indivíduo de que algo no organismo não se encontra a funcionar de forma normal ou existe alguma complicação; creio que a dor psicológica e a dor física andam de mãos dadas. De facto, ambas se sentem, ambas se fazem notar em diferentes intensidades, conseguem ser resistentes a tratamentos e podem interagir uma com a outra. 

    Infelizmente (ou nem tanto assim), durante o curto período de vida que tive, foi-me dada a conhecer uma vasta panóplia de modelos bem construídos de dor física e, no entanto, creio que nenhuma é tão agonizante como o sofrimento emocional. Viver numa constante náusea, com um desejo patente e inevitável de que a vida possa ser terminada no minuto seguinte, expressa-se a todos os níveis: a insónia e a os desmaios de sono que podem ter 18 horas de duração; a alteração do apetite; a vontade de fazer as coisas mais simples do quotidiano; a incapacidade de disfarçar o humor; as dores de cabeça e no corpo; a sensação constante de nó na garganta e a de se colapsar a chorar a qualquer momento. No meio de tudo isto existem várias vítimas, como a família e amigos, mas a mais afectada é a responsável pelo seu estado e pela sua eventual recuperação. Viver sufocado e molestado não é viver, é deixar que o tempo nos leve na esperança que em breve não exista mais “tempo”.