Entropia do meu Universo
Quando estamos num hospital horas a fio por dia, todos os
dias, todos os minutos se alongam, todas as horas parecem infindáveis, toda a
noção de tempo comum se altera. Parece que este tipo de infraestrutura tem uma
capacidade física de perturbar a entropia do Universo e o conceito temporal
subjacente.
Nunca gostei de hospitais, passei demasiado tempo aqui em
rotinas, acidentes e imprevistos, gostava até de já ter a minha conta de tempo
despendido nestas instituições encerrada. O ambiente em si é mórbido, o ar é
denso, como se o cansaço, a depressão, a monotonia e a frustração se
dissolvessem no ar, viajando pelos corredores e contaminando todo o centímetro
cúbico de ar.
É triste vaguear pelos corredores, deixar os olhos fugir
para os quartos e ver o vazio no rosto de muitos aqueles que apenas aguardam a
morte, o cansaço da dor, da solidão, do desconforto, do fim da sua vida como a
conhecia. A esperança é rara ver-se nestes locais, não é imune a tudo o que é administrado
nem aos desinfectantes do bloco, os doentes desistem quando as juras que lhes
foram feitas estão perdidas no tempo e quando as promessas parecem demasiado
longínquas para serem concebíveis. Pior do que isso é talvez o silêncio da
solidão que permanece apesar do ruído das máquinas, dos auxiliares e até mesmo
os gritos do desespero. Este silêncio, este vazio que ronda as pessoas, dá
demasiado tempo para pensar àqueles que só se focam nas dores, no adaptar ao
desconfortável.
Fico horas a pensar no que poderia estar a fazer, onde poderia estar a dormir com quem poderia estar a falar, penso um pouco em tudo, e a depressão apodera-se de mim como se eu nada pudesse fazer contra isso. Faz falta alguém que anime os corredores, que dê um exemplo de alegria para que isso sirva de contágio ou para que, pelo menos, provoque ciúmes ou saudades àqueles que já não se lembram de a sentir.
De certo modo, é bom ter este tempo para pensar, para explorar a minha infelicidade, para compreender o âmago da solidão tão patente em mim. Tenho tempo para reflectir sobre aquilo que fiz, o que faço e o que vou fazer. Por muito depressivo que se possa revelar esta análise, sinto que é importante verificar os meus pontos críticos e as minhas potenciais deficiências.
Fico horas a pensar no que poderia estar a fazer, onde poderia estar a dormir com quem poderia estar a falar, penso um pouco em tudo, e a depressão apodera-se de mim como se eu nada pudesse fazer contra isso. Faz falta alguém que anime os corredores, que dê um exemplo de alegria para que isso sirva de contágio ou para que, pelo menos, provoque ciúmes ou saudades àqueles que já não se lembram de a sentir.
De certo modo, é bom ter este tempo para pensar, para explorar a minha infelicidade, para compreender o âmago da solidão tão patente em mim. Tenho tempo para reflectir sobre aquilo que fiz, o que faço e o que vou fazer. Por muito depressivo que se possa revelar esta análise, sinto que é importante verificar os meus pontos críticos e as minhas potenciais deficiências.
Sou jovem, são poucos os anos (considero) que já celebrei, mas a idade é
um número e eu sinto-me bem mais velha, bem mais esgotada, como se o tempo me
pesasse mais a mim do que aos comuns mortais, e sempre que rastreio a alma que
ainda me está acessível, sinto que desperdiço todos os segundos que me são
dados, como se não aproveitasse a juventude para cometer os meus erros crassos
e as minhas fatalidades emocionais e acredito que perco muitas oportunidades de
aprender e de experimentar na pele. Já há algum tempo que tenho interiorizado
uma necessidade de me abrir e de me permitir a arriscar e a cometer os erros
típicos de uma jovem, bem como outros erros aleatórios que não sei se se
enquadram exactamente numa faixa etária, daí que tenho tentado mudar a minha
postura ao máximo, ser mais aberta com as pessoas, deixar que as pequenas
coisas fluam e tenho sido estratega. Por vezes é necessário manipular alguns
meios de forma a chegar a um fim desejado e é isso que tenho feito, mesmo que
isso implique mentir, ludibriar pessoas e fingir sentimentos e estados de
espírito. Tenho concluído que mais importante do que os outros somos nós e
aquilo que sentimos e, por isso, não tenho sentido remorsos por ser uma bela
ilusionista e por usar alguns peões para me divertir e usufruir de algumas vantagens,
seja na faculdade, no trabalho, seja na vida social.
A minha vida não é fácil - eu que vivo apenas uma realidade, uma consciência desde que me lembro, apenas posso avaliar aquilo que experiencio com base no que sinto, no que o dia-a-dia me provoca e concluo, de forma até deprimente , que a minha vida piora a cada segundo que respiro, como se qualquer fracção de tempo passa fosse já demais – e não gosto nem de a encarar nem de me esforçar em vão por modifica-la.
Gosto de acreditar que cada um traça o seu destino, mas há momentos em que me é difícil crer nisso, parece que tudo se alinha no sentido de me molestar.