segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O cansaço da rotina



Dor pensar, dor de sentir, dor de ser.



    Numa manhã como as outras –complicada, melancólica e depressiva-, indo de metro para a faculdade, ocorreram-me algumas filosofias de Fernando Pessoa, principalmente no que toca ao heterónimo que sofria com a sua consciência, com o facto de intelectualizar e da angústia que isso lhe causava. Mais do que pensar, a mim magoa-me grande parte do que percepciono, não só aquilo que cogito, mas aquilo que sinto, que experiencio e vivo. Sofro de dor de ser , dor de até existir. É um conceito muito abstracto, inclusive é-me complicado transpor para texto o que não passam de emoções, principalmente quando o criei num devaneio momentâneo. 

     A dor é uma sensação de desconforto, podendo ser física ou psicológica, é uma reacção do corpo humano para informar o indivíduo de que algo no organismo não se encontra a funcionar de forma normal ou existe alguma complicação; creio que a dor psicológica e a dor física andam de mãos dadas. De facto, ambas se sentem, ambas se fazem notar em diferentes intensidades, conseguem ser resistentes a tratamentos e podem interagir uma com a outra. 

    Infelizmente (ou nem tanto assim), durante o curto período de vida que tive, foi-me dada a conhecer uma vasta panóplia de modelos bem construídos de dor física e, no entanto, creio que nenhuma é tão agonizante como o sofrimento emocional. Viver numa constante náusea, com um desejo patente e inevitável de que a vida possa ser terminada no minuto seguinte, expressa-se a todos os níveis: a insónia e a os desmaios de sono que podem ter 18 horas de duração; a alteração do apetite; a vontade de fazer as coisas mais simples do quotidiano; a incapacidade de disfarçar o humor; as dores de cabeça e no corpo; a sensação constante de nó na garganta e a de se colapsar a chorar a qualquer momento. No meio de tudo isto existem várias vítimas, como a família e amigos, mas a mais afectada é a responsável pelo seu estado e pela sua eventual recuperação. Viver sufocado e molestado não é viver, é deixar que o tempo nos leve na esperança que em breve não exista mais “tempo”.

2 comentários:

  1. Não sei se queres ou não receber comentários, mas, se não fechaste essa opção, então, talvez não te sejam, de todo, indiferentes, ou tem dias!

    Não sei o teu nome, ou pseudónimo, caso tivesses um para o teu blogue, tipo, heterónimos de Fernando Pessoa, mas isso pouco importa. És uma pessoa, do sexo feminino, e vives ou és do Porto, portanto, ÉS UMA MULHER DO NORTE.

    Espero e não espero que me contactes, mas gostaria muito que o fizesses.

    O teu texto, desabafo, realidade, impressiono-me pela dor que as tuas palavras transportam. És universitária, escreves muito bem, e és , também bastante inteligente e sabes do que falas.

    Algo te levou a tal estado, não digas que não, porque nada acontece, casualmente.

    Não te chames, nem aches louca, porque és daquelas pessoas que não guardam o que sentem, e é melhor assim, digo-te.

    QUERO-TE FELIZ! NÃO É DIFÍCIL, PODES CRER. BASTA QUERER, E TU QUERES!

    Beijos.

    PS; mera indicção: quando deixamos comentário, aqui, temos de fazer verificação de duas palavras enormes e bué esquisitas. Se isso não te incomoda, a mim, também não, porque hei de lá chegar, por tentativas. O teu blogue é bem recente, e talvez nem ligasses a pormenores, dessa ordem. Age, como entenderes, mas esta situação, altera-se, facilmente.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigada pelas suas palavras e dicas, sinceramente. Fiquei feliz pelo seu comentário, pelos seus elogios.

      Sou, de facto, uma mulher do norte e, embora não me dê a conhecer pelo nome, faço-o através das palavras. Sou feliz, tenho dias. Mas acredito que para se valorizar e saber o que estar preenchido, radiante, é preciso aceitar que temos um lado mais sombrio, não tão alegre, com memórias das vivências que outrora nos corroeram. Enfrentar isso e reconhecer a minha própria dor é um processo de reciclagem emocional que me permite libertar memórias e pensamentos que não quero guardar em mim.

      Todos sofremos; uns choram, outros escrevem :)

      Eliminar